Este livro de poemas lançado no ano passado remete a uma frase atribuída ao escritor Tolstói: “Se queres ser universal, canta a tua aldeia”. Sempre presente quando se fala de literatura afro-brasileira, a questão da universalidade não reside somente na esfera literária: quantos negros não se sentem solitários, isolados, quando estão num ambiente em que são minoria e não encontram espaço para vivenciar sua individualidade? Quantos não anseiam uma universalidade que significa perder a própria identidade em função dos padrões de identidade veiculados pelos livros consagrados e pelos veículos de grande mídia? A metáfora do tambor já nos dá pistas: o tambor pode "chamar", pode convocar para uma visita à ancestralidade, mas "bater o tambor" para muitos significa um distanciamento. Esses que se distanciam falam de “bater o tambor” como se falassem de algo já antigo, fora de moda, "primitivo", quando na verdade o que vemos todo dia é uma reafirmação da ancestralidade africana. “Bater o tambor” para alguns já remete a uma oposição cultural: antigo X moderno (África X Ocidente). Uma falsa oposição, já que o tambor convive cada vez mais com a tecnologia. A ancestralidade não exclui a modernidade, assim como a emoção não exclui a reflexão. Ao cantar a família, o bairro, a cidade, as emoções que afloram no dia a dia, em belos poemas construídos com um lirismo rítmico, Sergio Ballouk nos leva por ruas, avenidas, situações em que qualquer um pode se ver. A ironia e a provocação também fazem parte desse cardápio no qual os poemas residem para despertar o leitor. Sergio tem o mérito de buscar o que é universal na vivência afro e trazer isso em textos (com conotação biográfica ou não) em que a forma remete ao som dos atabaques: DO ADJÁ CONTRA O AR a poesia vem da oferta do fim de feira do nervosismo do choro contido da panela vazia que cai no chão a poesia vem da arrebentação das rochas do coice da mula do adjá contra o ar a poesia vem do dedinho torcido das dores do parto da marca no couro a poesia vem do sobrenome do dono do nascido de nome gritado do bom filho criado para o mundo Livro: Enquanto o Tambor não Chama – Poemas Autor: Sergio Ballouk Quilombhoje Literatura Contato: sergioslv@ig.com.br www.sergioballouk.blogspot.com |
"O Zulu Inform@ é o elo entre Zulus, Hip-Hoppers e simpatizantes do Movimento junto à Zulu Nation Brasil. Administrado pelo Depto. de Comunicação da UZN Brasil, este Blog tem o intuito de expor informações pertinentes ao autêntico Hip-Hop, às afiliações Zulus (nacionais e internacionais) e às organizações parceiras à nossa nobre causa. Vida Longa a Afrika Bambaataa! Vida Longa à Universal Zulu Nation!"
domingo, junho 03, 2012
ENQUANTO O TAMBOR NÃO CHAMA...
Fonte: Quilombhoje