Na penúltima
quinta-feira (11), o grupo de rap
carioca Cone Crew Diretoria lançou via You Tube, o clipe “Pronto Pra Tomar o Poder”, da faixa single que acompanhará o terceiro álbum do
grupo, ainda no laboratório e sem previsões de lançamento. O vídeo, com quase
300 mil acessos até o momento, dirigido por Bruno Bastos traz a participação especial do músico, pensador e
ativista Marcelo Yuka e contém imagens
gravadas em meio ao cenário real dos protestos que aconteceram no Rio de
Janeiro, Brasília e São Paulo durante quase todo o mês de junho, tendo os
integrantes do grupo e o próprio Yuka no mesmo ambiente dos manifestantes
cariocas. E aproveitando o momento de pura descontração com Yuka no chat do Facebook, por meio de um bate-papo
informal, consegui com exclusividade, junto ao também Presidente de Honra da
Zulu Nation Rio de Janeiro, um pouco sobre sua experiência com os rappers da Cone Crew, além do seu ponto
de vista em relação ao Hip-Hop de hoje no Brasil, em especial o Rap Nacional...
DJ “Zulu” TR.
DJ TR – O que o levou a
participar de uma proposta tão ousada como esta ao lado da Cone Crew?
Yuka – O Papatinho é muito criativo!
Ele me mostrou a música já faz um tempo... Tava querendo uma certa mudança no
argumento da Cone e entendi que eles estão em evolução, são realmente livres e
não se preocupam com o mercado. Eles simplesmente fazem! Gosto do humor deles...
Acho bem Brasil e carioca. Gosto da ideia de o Hip-Hop democratizar sua dialética,
falar de vários assuntos e não se preocupar em estar com cara de mau no vídeo. Eles
são diferentes entre eles mesmos, cada um tem sua própria pegada! Acho que eles
estão em evolução e a maturidade não vai tirar o jeito “esculachado de ser” que
a Cone traz.
DJ TR – Na sua experiência de
vida, eles pegaram a direção certa aproveitando o momento certo?
Yuka – Acho muito importante o caminho
que eles estão traçando, você pode até não gostar, mas eles têm a onda deles e
são muito parecidos com os jovens que estão reclamando nas ruas: muitos não têm
uma tradição política, mas mesmo assim vão pras ruas e se colocam do jeito
deles. Não são hipócritas! A música não foi feita no calor das mudanças, eles não
se aproveitaram desse momento. Ela já estava pronta há meses! Alguns como eu,
fizeram por último suas devidas partes, mas o lance já tava rolando há muito
tempo.
DJ TR – E
quanto ao Rap Nacional (propriamente dito), que traz em seu perfil o traço da
contestação..., como você tem observado sua postura atual?
Yuka – Acho que está
melhorando. Mas confesso que o Rap andou meio mal das pernas..., essa coisa de
falar o tempo todo na primeira pessoa (do singular) às vezes, ou melhor, muitas
vezes, me parece extremamente egocêntrico. Acho que muitos não conseguem ter
uma identidade própria e ficam copiando essa “marra dos gringos”. Acho
deprimente, conservador, careta pra C...! Não levanto essa ideia do consumismo
como poder. Odeio essa coisa do cara falar de comunidade e estar usando um
cordão de ouro grosso pra C...! Isso pra mim não é poder: é o reprimido copiando
o modo operante do repressor! Temos que achar o nosso próprio simbolismo de independência.
Cada vez mais reparo os nossos ídolos do pioneirismo do Rap: quando se falava
em poder pro bairro, esse poder era como uma forma de fortalecimento e não de alguém
que pode comprar mais de uma comunidade, de uma cultura, que se espalha e se
fundamenta no grupo. Essa coisa de fazer show
com garrafa de champanhe na mão pode ser legal..., mas me parece burro! Não
que eu seja contra a estratificação social, mas sou a favor de outra forma de
dizer que estamos evoluindo. Tem muita coisa chata musicalmente também..., repetitiva,
cópia... Gosto muito da onda do Flying
Lotus, por exemplo! Gosto de ver, que mesmo de maneira simples, o
artista está procurando sua própria forma de expressão.
DJ TR – Diante dessa onda de
protestos que tomou conta das grandes metrópoles no mês passado levando o POVO
às ruas, pouco se viu a participação dos Hip-Hoppers... O pode ter acorrido?
Yuka – Se acovardam até o dia que for
mais confortável falar que sempre acreditaram na MUDANÇA...!
DJ TR - E quanto à Zulu Nation...?
Muitos em nosso Movimento aqui no Brasil são avessos à nossa organização, buscando
várias contradições em sua metodologia de trabalho sobre o que vem a ser
verdadeiramente Hip-Hop. Como você encara isso?
Yuka – Eu não acho que a arte ou o
Hip-Hop têm que ser exclusivamente engajados, mas a arte é também o espelho da
sociedade. E a Zulu Nation e o Hip-Hop tem na sua essência um protagonismo de
mudança, por que mesmo quando se falava de festa, de nossa comunidade e de
nossa maneira de exigir Cultura e Lazer, foi uma mudança de paradigma. A
Cultura Hip-Hop mostrava que os mais pobres queriam e tinham a possibilidade de
se colocar no protagonismo, de se ver como uma Cultura forte. É claro que a
indústria cultural vai devorar e captar tudo. Então, eu não consigo me ver
admirando esses marrentinhos, fazendo muitas vezes em discurso populista, como
se fossem um “Datena do Rap”. Mas começo a ver que essa parada está caindo... Eu espero por uma nova onda e acho que está aí
pintando... Mas ainda tem muita gente tentando ser “Herói do Gueto”, se impondo
de maneira muito boba.
DJ TR – Dê um conselho para o
jovem que se inspira no Rap e ou no Hip-Hop de hoje...
Yuka – Leia mais e procure sua própria identidade.
DJ TR – Considerações finais do Yuka...
Yuka – Quero só expressar o meu grande
orgulho por ser um Zulu! Paz e Respeito a todos!